Unidade Embrapii Agência Zetta cria pontes entre academia e mercado com agricultura digital

Bárbara Melo - 24-07-2025
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Geração de conhecimento e soluções tecnológicas contam com o apoio da FAPEMIG e de professores de diferentes departamentos da Ufla

A Agência Zetta, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), vinculada à Universidade Federal de Lavras (Ufla), vem se destacando de forma promissora com suas soluções em agricultura digital, sistemas inteligentes e geotecnologias aplicadas ao agro. Atuando como porta de entrada de muitos acadêmicos no mercado, ela tem sido “a chance de transformar pesquisa em produto e atender diretamente ao setor produtivo”, como destaca Jaqueline Costa, professora do Departamento de Gestão do Agronegócio da e coordenadora da unidade.

Parte essencial desse processo tem sido o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). Por meio de editais e bolsas, a Fundação tem viabilizado a contratação de pós-graduandos e pesquisadores que atuam diretamente nos projetos da Zetta. “Hoje temos bolsistas financiados pela FAPEMIG atuando em projetos estratégicos. Sem esse suporte, seria muito difícil manter a estrutura que temos hoje”, reconhece Jaqueline.

Segundo ela, cerca de 70% dos recursos captados em editais da Fundação foram direcionados à contratação de pessoal qualificado, o que fortaleceu a capacidade de entrega da unidade. Na última semana, a Agência Zetta soube que foi uma das contempladas pela Chamada FAPEMIG 03/2025 – Fortalecimento das Unidades Embrapii. O valor do financiamento aprovado, que chega a R$ 1,5 milhão, permitirá à Zetta expandir suas operações e reforçar a prospecção de empresas parceiras.

Um ecossistema multidisciplinar

Criada em 2020, em plena pandemia, a unidade é fruto da consolidação de uma trajetória iniciada ainda nos anos 2000, com o Laboratório de Engenharia de Modelagem Ambiental e Florestal (LEMAFF). Desde então, a Zetta reúne uma equipe multidisciplinar em busca de soluções inovadoras para o mercado agrícola.

Diferentemente de unidades ligadas a departamentos específicos, a Zetta tem uma configuração transversal. Trata-se de uma estrutura que congrega pesquisadores de diferentes áreas da Ufla – como fitotecnia, engenharia florestal, gestão do agronegócio e biotecnologia – em uma lógica de atuação conjunta. “A Zetta está acima dos departamentos. Ela reúne todos os que trabalham com agricultura digital, inteligência de dados e inovação tecnológica. Isso dá muita força aos projetos”, explica a coordenadora.

Desde sua criação, a unidade já realizou projetos com empresas como Suzano, Klabin e MV Power. Um dos destaques é o projeto desenvolvido para a Suzano, que investigou a capacidade de sequestro de carbono por florestas plantadas e nativas sob controle da companhia. 

O projeto realizado em parceria com a MV Power, por sua vez, aplicou inteligência artificial e drones para identificar, de forma automatizada, placas fotovoltaicas com falhas de funcionamento. Há ainda estudos sobre genótipos de cana-de-açúcar e uso de moléculas em plantas, com foco em produtividade e sustentabilidade.

Plataforma digital sobre bioinsumos na cafeicultura

Um dos projetos em curso na Zetta é voltado à construção de uma plataforma digital sobre bioinsumos na cafeicultura. Coordenado pelo professor Flávio Medeiros, da área de Fitopatologia, o projeto nasceu de uma demanda por materiais técnicos que ajudassem produtores de café a adotar práticas mais sustentáveis. “Nós recebemos uma demanda de fazer um livro sobre bioinsumos na cafeicultura como uma ferramenta de promover a mudança do sistema de produção do café, com redução dos defensivos químicos, para se adequar ao mercado consumidor”, explica o professor.

Entretanto, houve uma mudança na rota do projeto que fez com que a equipe optasse por uma solução mais dinâmica. “A geração do conhecimento é muito rápida. Se a gente fizesse um livro físico, logo ele estaria desatualizado. Por isso, sugerimos criar uma plataforma online, com possibilidade de atualização constante”, explica Medeiros. A plataforma funcionará como um hub de conhecimento técnico, com capítulos temáticos abordando temas como nutrição de plantas, manejo, uso de coberturas vegetais e saúde do solo.

Mais do que um repositório de informações, a ferramenta permitirá que o conteúdo seja enriquecido com a contribuição de especialistas, em um modelo inspirado nas revistas científicas. “O conhecimento é gerado inicialmente por colegas da academia, mas depois qualquer pessoa poderá propor atualizações. Haverá uma curadoria técnica, com editor-chefe e editores associados. Dessa forma, garantimos a qualidade e a confiabilidade do conteúdo”, destaca o professor.

A plataforma também contará com um banco de dados inédito no setor. Nele, estarão listados todos os produtos disponíveis no mercado que se enquadram como bioinsumos aplicáveis à cafeicultura, com informações organizadas por categoria técnica. “Além de abordar os problemas e soluções para a produção do café, a plataforma vai permitir ao produtor consultar quais bioinsumos estão disponíveis para cada etapa do cultivo. Isso ainda não existe de forma centralizada”, aponta Flávio.

A expectativa é que a versão beta da plataforma seja entregue em até um ano. A empresa parceira do projeto ficará responsável pela hospedagem e disseminação do conteúdo, sem fins comerciais. “A ideia não é vender o acesso à plataforma, mas disponibilizá-la amplamente. O objetivo é levar informação de qualidade a quem precisa, promovendo uma agricultura mais sustentável”, acrescenta.

A equipe motivada para a elaboração da plataforma segue o modelo transdisciplinar da Agência, trabalhando em conjunto com setores diversos. Créditos: Júlia Rodrigues/FAPEMIG

Futuro promissor

Na visão de Flávio Medeiros, a aproximação entre universidade e mercado promovida pelos projetos da Zetta tem um valor imensurável. “Temos uma velocidade muito grande de geração de conhecimento, mas como professores, temos pouca exposição ao mercado. Essa interação nos permite ver de perto as demandas e, ao mesmo tempo, mostrar como o conhecimento científico pode gerar impacto direto”, avalia.

Nos planos de Jaqueline Costa para a Agência Zetta está a ampliação do escopo de atuação da unidade. Entre as metas para os próximos meses estão a formalização de parcerias com o parque tecnológico da Ufla, a intensificação das ações de divulgação e a estruturação de uma equipe mais robusta para atendimento às empresas. “Aumentamos significativamente a procura por projetos nos últimos meses, mesmo sem buscarmos ativamente. Precisamos, agora, escalar nossa atuação”.